segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Revista Globo Rural

Revista Globo Rural, Fevereiro de 2006, n° 244
Cultura Popular - Mãos de Minas
Texto: Suely Gonçalves
Fotos: Ernesto de Souza
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Dona Valdemira se admirava  quando a neta, bem pequena, transformava a massa de biscoito em bichinhos tão bem-feitos que dava até dó de comer. Depois, nos tempo da pré-escola, foi a vez de a professora se espantar com o talento da Alina. A massinha de modelar, nas mãos a menina virava pássaros, frutas e flores perfeitos.
Hoje aos 20 anos, Luana Lopes de Barros, apurou o talento e se aprofundou na pesquisa de matérias-primas. Elegeu o pó de café ( usado é bom lembrar!) como o predileto, mas não revela de jeito nenhum os produtos que utiliza para dar liga à massa macia que usa para modelar negras grávidas, mucamas sensuais, vôos de capoeira, orixás e escravos vergados ao trabalho.
Não sabe dizer por que os negros começaram a brotar dessa massa. Talvez pela presença histórica nos vastos cafezais dos sul de Minas, onde fica Pouso Alegre, terra de Luana. Talvez porque seu nome venha de lá, do continente negro. “Não sei, eles foram vindo, gostei deles e eles gostaram de mim”, simplifica. Seria o caso também das históricas figuras de Chica da Silva, Zumbi dos Palmares e de Menininha do Gantois? Sempre os negros... Por causa deles foi buscar na África um nome para sua Arte. Iyamesan está grafado em suas estatuetas. “É Iansã, a guardiã dos ventos, senhoras das tempestades, dos raios”, diz, vencendo a timidez que marca o seu jeito de ser  e que não combina com o voluptuoso temperamento da deusa africana. “ Ela me inspira”, revela Luana.
Uma peça, como negros em samba, exige uma semana de trabalho. Nunca será a mesma, embora chovam encomendas. Fez uma exceção para um senhor de Brasília que se encantou com sua Chica da Silva.
“Ele veio longe, fiquei com dó”, rende-se. E essa gente que vem de longe  tem aparecido cada vez com mais freqüência para conhecer o trabalho de Luana, elogiar a qualidade e apontar o movimento que ela consegue  imprimir às peças como sua marca registrada.
“São estátuas vivas, muito expressivas”, diz Ana Rita Oliveira Ávila que comprou a primeira peça modelada pela jovem artista. Indiferente aos elogios, Luana continua a esvaziar o coador de café, todas as manhãs. *


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